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CID Cefaleia: Guia Completo para Diagnóstico e Tratamento

A cefaleia é uma condição que afeta a imensa maioria das pessoas em algum momento de suas vidas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dor de cabeça é uma das queixas mais comuns na prática clínica, influenciando significativamente a qualidade de vida, a produtividade e o bem-estar geral dos indivíduos. Apesar de ser uma manifestação bastante comum, ela abrange uma vasta gama de causas, desde questões benignas até condições neurológicas graves.

No âmbito do diagnóstico, destaca-se a importância de classificar a cefaleia de acordo com os códigos do CID (Classificação Internacional de Doenças), que fornece um sistema padronizado para identificar e categorizar diferentes tipos de dores de cabeça. Neste artigo, abordarei de forma completa o CID relacionado às cefaleias, os critérios diagnósticos, os métodos de tratamento e as principais recomendações clínicas, oferecendo uma visão clara e aprofundada sobre o tema.

Seja você um profissional de saúde, estudante ou paciente interessado em compreender melhor essa condição, este guia busca oferecer informações atualizadas, baseadas em evidências e apresentadas de maneira acessível, para que você possa compreender a complexidade da cefaleia e seus aspectos diagnósticos e terapêuticos.

O que é a CID e sua importância na classificação de cefaleias

A CID, ou Classificação Internacional de Doenças, é uma ferramenta de padronização criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que permite categorizar todas as condições médicas, incluindo as cefaleias. Os códigos do CID facilitam a comunicação entre profissionais de saúde, ajudam na pesquisa epidemiológica e orientam o planejamento de estratégias de tratamento.

No contexto das cefaleias, o CID classifica as diferentes formas de dor de cabeça, distinguindo, por exemplo, entre dores primárias, como enxaqueca e cefaleia tensional, e dores secundárias, associadas a outras condições clínicas ou neurológicas. Essa classificação é fundamental para estabelecer o diagnóstico correto, orientar o tratamento adequado e acompanhar a evolução do paciente.

Classificação das cefaleias segundo o CID

A classificação das cefaleias no CID está bastante detalhada, permitindo uma categorização precisa. De acordo com a última revisão, as principais categorias incluem:

Cefaleias primárias

São aquelas cuja causa não pode ser atribuída a uma condição clínica ou neurológica identificável. Elas representam a maioria dos casos de cefaleia e incluem:

  • Enxaqueca (CID G43)
  • Cefaleia tensional (CID G44.2)
  • Cefaleia em salvas (CID G44.0)
  • Outras cefaleias primárias

Cefaleias secundárias

Causadas por outras condições médicas, como infecções, trauma ou distúrbios neurológicos. Exemplos incluem:

  • Cefaleia por uso excessivo de medicação
  • Cefaleia relacionada a| trauma craniano
  • Cefaleia associada a meningite ou tumor cerebral

Cefaleias classificadas de acordo com critérios específicos

Cada categoria inclui subtipos definidos por critérios clínicos precisos, que facilitam o diagnóstico e a padronização do tratamento.

Cefaleia primária: Enxaqueca (CID G43)

Definição e características

Enxaqueca, ou cefaleia migraineana, é uma das formas mais comuns de dor de cabeça primária, afetando aproximadamente 15% da população mundial. É caracterizada por crises recorrentes de dor latejante, muitas vezes unilateral, de intensidade moderada a grave, que pode durar de 4 a 72 horas.

Ela pode ser acompanhada de sintomas acompanhantes, como náuseas, vômitos, sensibilidade à luz (fotofobia) e ao som ( fonofobia). Algumas pessoas também experimentam sintomas neurológicos transitórios conhecidos como aura, que pode incluir distúrbios visuais, sensoriais ou de fala.

Critérios diagnósticos segundo o CID

Segundo a classificação da International Headache Society (IHS) e embasado pelos critérios do CID, a enxaqueca apresenta os seguintes critérios principais:

  1. Crises recorrentes de dor de cabeça, com duração de 4 a 72 horas (quando não tratada ou sem uso de medicação eficaz).
  2. A dor apresenta pelo menos dois desses aspectos:
  3. Localização unilateral
  4. Dor latejante
  5. Intensidade moderada a grave
  6. Agrava-se com atividades físicas habituais
  7. Além disso, deve apresentar pelo menos um dos seguintes sintomas durante a crise:
  8. Náusea e/ou vómitos
  9. Fotofobia e fonofobia
  10. As crises não são explicadas por outra condição médica.

Tipos de enxaqueca

De acordo com a presença ou ausência de aura, podemos distinguir:

Tipo de EnxaquecaDescriçãoCID Relacionado
Enxaqueca sem auraCrise com sintomas típicos sem sintomas visuais ou neurológicos precedentesG43.0
Enxaqueca com auraCrise precedida ou acompanhada por sintomas neurológicos transitórios, geralmente visuais ou sensoriaisG43.1
Enxaqueca crônicaCrises ocorrendo em mais de 15 dias por mês, por mais de 3 mesesG43.2

Fatores desencadeantes e manifestações clínicas

Fatores desencadeantes comuns incluem estresse, privação de sono, hormonal, certos alimentos (queijo, chocolate), cafeína, alterações ambientais, entre outros.

As manifestações clínicas variam, porém a dor latejante, unilateral e pulsátil é característica predominante. O paciente também pode relatar sensibilidade ao barulho e à luz, além de náusea e vômito.

Diagnóstico diferencial

É importante distinguir a enxaqueca de outras cefaleias, como cefaleia tensional e cefaleia em salvas, além de descartar causas secundárias, como tumores ou aneurismas. O diagnóstico é clínico, guiado pelos critérios estabelecidos e complementado, quando necessário, por exames de imagem.

Cefaleia tensional (CID G44.2)

Características e critérios diagnósticos

A cefaleia tensional é a forma mais comum de dor de cabeça, frequentemente relacionada ao estresse, ansiedade ou fadiga muscular. Caracteriza-se por uma dor de intensidade leve a moderada, de tipo constritivo, que geralmente afeta toda a cabeça ou áreas específicas, como a região da testa ou nuca.

De acordo com critérios do CID, ela apresenta:

  1. Episódios recorrentes de dor de cabeça ambos os lados, com duração de minutos a dias.
  2. A dor tem formato de pressão ou aperto, de caráter constante, sem latejo.
  3. Não há sintomas associados de náusea ou vômito na maioria dos casos, embora possa ocorrer sensibilidade à luz ou ao som.

Diferenças entre cefaleia tensional e enxaqueca

CaracterísticasCefaleia tensionalEnxaqueca
LocalizaçãoDifusa ou bilateralNormalmente unilateral
Tipo de dorConstritiva, pressãoLatejante, pulsátil
IntensidadeLeve a moderadaModerada a grave
FrequênciaFrequente, relacionada ao estresseVariável, muitas vezes episódica
Sintomas acompanhantesPoucos ou nenhumNáusea, vômito, fotofobia, fonofobia

Tratamento e manejo

O manejo da cefaleia tensional envolve:

  • Mudanças no estilo de vida: redução do estresse, técnicas de relaxamento, sono adequado.
  • Medicamentos de uso ocasional: analgésicos como paracetamol ou anti-inflamatórios leves.
  • Prevenção: em casos frequentes, uso de antidepressivos tricíclicos como amitriptilina, sob orientação médica.

Cefaleia em salvas (CID G44.0)

Características principais

A cefaleia em salvas é uma cefaleia primária autolimitada, de intensidade extremamente forte, com crises que parecem uma "facada" na cabeça. É considerada uma das dores mais intensas conhecidas pelo ser humano. Sua prevalência é menor, ocorrendo mais em homens entre 20 e 40 anos.

Os ataques geralmente duram entre 15 minutos a 3 horas, com episódios repetidos ao longo de dias ou semanas, seguidos de períodos de remissão.

Manifestações clínicas

  • Dor extremamente intensa, unilateral, frequentemente localizada ao redor do olho.
  • Pode haver conjuntivite, lacrimejamento, congestão nasal e sudorese facial na região afetada.
  • Os episódios geralmente ocorrem no mesmo lado, quase sempre ao redor do olho.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico é clínico, baseado na apresentação clássica de crises intensas, periódicas e unilateral.

Para tratamento, a rápida administração de triptanos ou oxigênio a 100% é eficaz para aliviar as crises. Medicamentos preventivos incluem verapamil ou outros bloqueadores de cálcio.

Diagnóstico diferencial das cefaleias

Diferenciar entre os diversos tipos de cefaleia é fundamental para garantir um tratamento adequado. Algumas condições que podem mimetizar ou coexistir com as cefaleias primárias incluem:

  • Cefaleia secundária a infecções, tumores ou trauma craniano.
  • Hemorragias intracranianas.
  • Distúrbios neurológicos como aneurismas ou epilepsia.
  • Uso abusivo de analgésicos.

O diagnóstico é baseado em uma anamnese detalhada, exame físico completo e, quando necessário, exames complementares de imagem como tomografia computadorizada ou ressonância magnética.

Abordagem diagnóstico de cefaleias segundo o CID

A avaliação deve seguir uma abordagem sistemática:

  1. História clínica detalhada, incluindo padrão, duração e fatores desencadeantes.
  2. Exame neurológico completo para identificar sinais de alterações cerebrais ou neurológicas.
  3. Identificação de fatores de risco para causas secundárias.
  4. Classificação precisa de acordo com critérios diagnósticos internacionais.

A classificação correta, auxiliada pelos critérios do CID e da International Headache Society, garante uma abordagem terapêutica eficaz e adequada.

Tratamento das cefaleias segundo o CID

Tratamento de cefaleias primárias

Enxaqueca e cefaleia tensional respondem bem a uma combinação de medidas farmacológicas e não farmacológicas.

  • Medidas não farmacológicas:
  • Evitar fatores desencadeantes.
  • Técnicas de relaxamento e biofeedback.
  • Dieta equilibrada e rotina de sono regular.
  • Farmacoterapia:
  • Analgésicos simples (paracetamol, NSAIDs).
  • Triptanos para crises de enxaqueca com ou sem aura.
  • Profilaxia em casos frequentes: betabloqueadores, antidepressivos tricíclicos, anticonvulsivantes.

Enxaqueca crônica muitas vezes exige uma abordagem multidisciplinar, incluindo neurologistas, psicólogos e fisioterapeutas.

Tratamento de cefaleias secundárias

A abordagem centra-se na identificação e tratamento da causa subjacente. Condições como tumores ou infecções requerem intervenções específicas e, muitas vezes, hospitalização ou cirurgias.

Medicação de uso a longo prazo e prevenções

Para alguns pacientes, o uso de medicação profilática é essencial na prevenção de crises frequentes, sempre sob orientação médica.

Recomendações clínicas e atuais

De acordo com a literatura científica e diretrizes internacionais, é fundamental uma abordagem individualizada para cada paciente, considerando fatores como frequência, intensidade, impacto na vida diária e comorbidades.

Recomenda-se também a Educação do paciente sobre a doença, estratégias de enfrentamento e adesão ao tratamento, visando melhorar sua qualidade de vida.

Para informações adicionais, recomendo consultar fontes confiáveis como o site da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe) www.cbf.org.br e o site da Organização Mundial da Saúde (OMS) www.who.int.

Conclusão

A cefaleia, embora extremamente comum, apresenta uma complexidade que exige atenção cuidadosa do profissional de saúde para um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz. A classificação segundo o CID é uma ferramenta essencial para entender as diferentes manifestações, desde as primárias, como enxaqueca, até as secundárias, que precisam de investigação e terapêutica específica.

O manejo adequado, aliado à educação do paciente, é fundamental para minimizar o impacto dessa condição na vida diária. A atualização constante dos critérios diagnósticos e das estratégias terapêuticas contribui para a melhoria do prognóstico e da qualidade de vida dos indivíduos acometidos.

Perguntas Frequentes (FAQ)

1. Qual a principal diferença entre enxaqueca e cefaleia tensional?

A principal diferença está na natureza da dor. A enxaqueca costuma ser unilateral, latejante, de moderada a forte intensidade, frequentemente acompanhada por sintomas como náusea, vômito e sensibilidade à luz e ao som. Já a cefaleia tensional apresenta uma dor de pressão, bilateral, de intensidade leve a moderada, com aspecto de aperto ou faixa ao redor da cabeça, raramente acompanhada de sintomas associados.

2. Como saber se minhas dores de cabeça são graves e exigem investigação imediata?

Se você apresentar dor de cabeça súbita de início intenso (sem precedentes), acompanhada de sintomas neurológicos como fraqueza, alterações na fala, confusão, perda de força, visão turva ou perda de consciência, procure atendimento médico emergencial. Além disso, dores que surgem após trauma craniano ou que se acompanham de febre, rigidez no pescoço ou sinais de infecção também requerem avaliação urgente.

3. Quais exames complementares podem ajudar no diagnóstico de cefaleia secundária?

Exames de imagem, como tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM), são indicados quando há suspeita de tumores, sangramentos, aneurismas ou outras alterações estruturais. Em alguns casos, exames laboratoriais também podem ser solicitados para investigação de infecções ou distúrbios metabólicos.

4. Existe cura para a enxaqueca?

Embora não exista uma cura definitiva, o tratamento atualizado e adequado permite um controle eficiente das crises e a redução da frequência e intensidade dos sintomas. Mudanças no estilo de vida, medicamentos preventivos e terapias complementares contribuem para uma melhora significativa.

5. Quais são os fatores de risco para desenvolver cefaleia crônica?

Fatores como estresse prolongado, uso excessivo de analgésicos, distúrbios do sono, ansiedade, depressão, má alimentação e sedentarismo podem contribuir para o desenvolvimento de cefaleia crônica. Além disso, alguns fatores genéticos também podem predispor ao quadro.

6. Como posso prevenir episódios frequentes de cefaleia?

Adotar hábitos saudáveis é fundamental:- Manter uma rotina regular de sono- Gerenciar o estresse por meio de técnicas de relaxamento- Evitar alimentos gatilho- Controlar o uso de cafeína- Praticar atividade física regularmente- Seguir as orientações médicas e manter o tratamento preventivo quando indicado

Referências

  • Organização Mundial da Saúde. Classificação Internacional de Doenças (CID-11). https://www.who.int/classifications/icd/en/
  • Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe). Guia de diagnóstico e manejo das cefaleias. Disponível em: https://www.cbf.org.br
  • Headache Classification Committee of the International Headache Society. The International Classification of Headache Disorders, 3rd edition (ICHD-3). Cephalalgia. 2018; 38(1): 1–211.
  • Goadsby PJ, et al. Migraine: Current understanding and management. The Lancet. 2017; 390(10101): 557-567.
  • Blumenfeld AM, et al. American Headache Society guidelines update on medication overuse headache. Headache. 2016; 56(1): 4–28.

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